Esta crónica do Miguel Esteves Cardoso de hoje no 'Público' tocou-me muito. Está magistral.
O arroz doce quente-MEC no ´Publico’ de 18 de Julho 2010
Vou fazer 55 anos e só esta semana provei arroz doce quente, acabado de fazer. Avisaram-me que fazia virar a tripa, mas que valia a pena.
E fez, mas valeu.
Faltam-me a marmelada quente e os doces de ginja e tomate recém-fervidos e arrefecidos só o bastante para não arrancar o céu da boca. Toda a gente à minha volta conhecia esses prazeres, mas, quando confessei a minha virgindade, detectei melancolias. A ignorância das coisas boas da vida-quando fazem mal e quando sabem mais bem a primeira vez do que a segunda -pode ser invejável. Andy Wharol disse que o sexo deveria começar aos 40 anos, para animar a metade mais chata da vida.
Adiar prazeres é uma boa estratégia. Convém que sejam prazeres que não requeiram energia física. Tenho autores guardados, como Joseph Roth. Ou cidades, como Barcelona. De resto, fui ganancioso e esbanjei, na estupidez e cobardia do carpe diem , o pouco conhecimento que tinha na imensidão das coisas que conheci. Antes de aprender a dar-lhes valor, à parte serem diferentes umas das outras. Só se vai uma vez a Paris pela primeira vez. Desperdicei-a aos treze anos. A pressa é uma paixão destrutiva. Quando queremos ser mais velhos do que somos e fazemos tudo para ter vivido tanto como eles, é-nos roubada a juventude.
Fiz bem com o arroz doce quente. As alegrias também se poupam e adiam. Devem guardar-se. Faz mal quem se antecipa tanto que lhe escapa a felicidade de saber o que lhe está a acontecer. Antes de ser tarde.
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